sexta-feira, 31 de agosto de 2007

porrada

o aniversário é seu
mas sou eu
quem envelhece
meus cabelos
grisalhos
cada dia mais
brancos
minha pele
pêssego
ficando mais
flácida
os seios
túrgidos
os olhos
úmidos
vc comemora
e eu encho a cara
cheia que estou
dessa vida
desta dívida
que sempre sobra
porque talvez
beber conserve
uma certa
adolescência
talvez porque
confundir-se
seja um ato
solitário

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

aplicação

a palavra é de prata
o silêncio é de ouro
a palavra basta
o silêncio é puro
a palavra é traço
o silêncio é rumo
a palavra o máximo
o silêncio é duro
a palavra é ácida
o silêncio um muro
a palavra é tácita
o silêncio é turvo
a palavra é clara
o silêncio escuro
a palavra estraga
o silêncio ajuda
a palavra fala
o silêncio mudo
a palavra - nada
o silêncio - tudo

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

oceano

minha amiga mora longe
e eu lhe escrevo versos
poemas e cartas

minha amiga mora em mim
e a distância parece menor
se a saudade se desfaz
em lembranças

minha amiga mora ao lado
na rua de baixo
num sufoco
confesso
minha fragilidade
no despejo das lágrimas
abro um sorriso

minha amiga chegará
ao cair da tarde
para tomar chá
andaremos pela paisagem
descalças
as mãos dadas
feito a infância
um brilho nos olhos
persistente

minha amiga mora longe
e não importa
todos os dias existem
para tornar o reencontro
das nossa mãos antigas
o presságio do futuro
um instante único
interessante pressuposto

minha amiga mora sempre
dentro e fora do meu coração

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

manhãs

um sono eterno me consome
ópio que me percorre as veias
thc em doses fatais
aos neurônios

estranhas sensações
mania de perseguição
pânico paranóia
buraco de ozônio na memória

raio que me atinge em transe
pura inspiração de éter
leio os poemas de pessoa
o naufrágio das civilizações
em episódios históricos

quão humana e desumana
essa fragilidade evolutiva
qual será o próximo passo
do nosso plano

rumo a esse desencontro
encontro que perdura
nessa loucura ínfima
impune-se o poeta
impõe-se o alumbramento

uma névoa sempre esconde
e releva a realidade

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

escriba

escrever é um diálogo cego
um monólogo imenso
um suplício

escrever é um tédio
um assédio linguístico
um compromisso

escrever é sacrifício
sangue sobre papel
delírio místico

escrever é osso
esqueleto e carne
deste santo ofício

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

vøo cego

hoje o texto é inválido
idéia enigmática
em desenvolvimento

hoje o poema é forçado
rascunho derramado
sobre o sofrimento

hoje - dia claro -
o pensamento turvo
precipita-se
em silêncio

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

crítica

em nada prática
espero ética
estar estática
é pura métrica
cansaço físico
um tipo básico
mero espírito
de alma trágica
pareço máquina
dentro do íntimo
existe um ínfimo
daquela mágica
um sonho estúpido
de gosto múltiplo
não resta dúvida
me falta prática

domingo, 5 de agosto de 2007

money

ganhar dinheiro custa caro
cada ruga declarada
ganhar dinheiro custa caro
custa os olhos cara
ganhar dinheiro custa todo seu trabalho
ganhar dinheiro custa seu salário pago
custa seu ordenado
custa a mascara diaria
ganhar dinheiro custa impostos
postos pontos empregados
ganhar dinheiro custa seu tempo
desordenado
ganhar dinheiro não vale
mais que um sapato furado